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Wednesday, March 22, 2006

Khalil Gibran - Um relance sobre o futuro

UM RELANCE SOBRE O FUTURO – Khalil Gibran

De trás dos muros do Presente ouvi os sinos da Humanidade.

Ouvi os sons dos sinos a anunciar o início das orações no templo da Beleza. Sinos moldados no metal da emoção e colocados sobre o altar sagrado – o coração humano.

Por trás do futuro vi multidões a adorar no seio da natureza, com as faces voltadas para o oriente e esperando a inundação da luz matinal – o amanhecer da Verdade.

Vi a cidade em ruínas e nada restar para contar ao homem a derrota da ignorância e o triunfo da Luz.

Vi os anciãos sentados à sombra de ciprestes e salgueiros, rodeados de jovens que escutavam as suas histórias de tempos idos.

Vi os jovens a dedilhar as suas guitarras e a tocar as suas flautas, e jovens mulheres de cabelos soltos dançam sob as árvores de jasmim.

Vi os homens a ceifar o trigo e as mulheres a recolher os molhos e a cantar canções alegres.

Vi uma mulher a enfeitar-se com uma coroa de lírios e um corpete de folhas verdes.

Vi a Amizade fortalecida entre o homem e todas as criaturas, e clãs de aves e borboletas a voar em direcção aos riachos, com confiança e segurança.

Não vi pobreza; nem encontrei excesso. Vi a fraterniadade e a igualdade a prevalecer entre os homens.

Não vi um único médico, porque todos tinham o saber e os meios para se curar a si mesmo.

Não encontrei nenhum padre, porque a consciência era então o sumo sacerdote. Nem vi um advogado, porque a natureza tinha tomado o lugar dos tribunais e os tratados de amizade e companheirismo reinavam.

Vi que o homem sabia que era o alicerce da criação e que se tinha elevado acima da mesquinhez e da baixeza, e tirado o véu da confusão dos olhos da alma; esta alma agra consegue ler o que as nuvens escrevem na face do céu e o que a brisa desenha na superfície da água; percebe agora o significado do sopro da flor e das cadências do rouxinol.

De trás dos muros do Presente, no palco das eras por vir, vi a Beleza como um noivo, o Espírito como uma noiva e a vida como a Noite cerimonial do Kedre.*

* Uma noite da quaremas muçulmana durante a qual, segundo se diz, Deus concede aos fiéis os seus desejos.

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