Através
Era uma vez uma menina que foi passear pela floresta.
O sol brilhava naquele dia, as nuvens tinham todas formas de gelados, espirais, flores, árvores e estátuas de deuses brincalhões.
O ar era mais espesso que o costume, como se desse para pegar num tapete, lançá-lo ao ar, saltar-lhe para cima e desatar a esvoaçar. O barulho da água a bater nas rochas era percussão natural, pautando o ritmo dos passos daquela menina, que naquele dia estava, simplesmente, viva.
Deambulou, deambulou, deambulou, por caminhos desconhecidos, rodopiando, espiralando pelas árvores, trepando os troncos e procurando por baixo de todas as pedras algo que tinha perdido mas não sabia o que era. Algo que já conhecia e que iria reconhecer mas que não sabia como iria acontecer. Apenas sabia que iria sentir e não seria possível duvidar.
A dada altura, viu uma luz ao fundo, e era a luz reflectida na água de um lago cheio de cores vibrantes e harmonias de cores, uma sinfonia de vida em que o canto dos pássaros, o barulho do vento nas flores, o saltitar da água e a própria corrente compunham uma música nunca antes ouvida, apenas sentida em todas as suas células.
Naquele momento, perante tal visão de beleza e encantamento, êxtase natural, aquele orgasmo e frenesi de naturalidade efervescente e fosforescente, de energia incadescente, um portal abriu-se diante dos seus olhos.
Começou por ser apenas uma luzinha no ar à sua frente. Essa luz começou a desenhar um quadrado perfeito. Uma tela.
Uma voz soou, uma voz que continha em si o canto de todos os anjos, todas as harpas douradas, todas as harmonias estranhas e belas possíveis e impossíveis de imaginar. Essa voz disse: "Pinta aqui a tua alma."
A menina ergueu-se e levitou por cima da água, levada apenas pelo olhar, e chorou, pois foi a expressão mais sincera para aquele momento.
Cada lágrima dirigiu-se àquela tela e pintou-a como um pincel com a sua própria cor, cadência, expressão e intenção. As lágrimas percorriam a tela como as gotas de chuva num vidro. Ou como as gotas de chuva num solo que já possui forma e que se adequam às reentrâncias e morfologia existente...
À medida que o quadro se formava a menina sentiu-se desintegrar e desaparecer como corpo material.
A voz disse: "Entra."
Era agora ou nunca. Era sim ou não. Amor ou Medo?
Amor, amor, amor...
E como o vento, a menina entrou. Escorregou, mergulhou e elevou-se num túnel de espaço-tempo sem fim, para baixo, para cima, para todas as direcções ao mesmo tempo.
Era como estar debaixo das ondas, numa tempestade, no meio de um tornado, ou numa erupção vulcânica, simultaneamente.
Também era como estar num campo de flores, num mar de cores e cheiros, ou num parque infantil cheio de crianças e riso infinito...
Era como estar dentro do sol, como estar fundida com o magma no centro da terra, ou no coração de todos os seres humanos.
A menina viajou até ao início e ao fim de tudo, e percebeu que eram ambos o mesmo. Viu toda a sua vida como um filme em velocidade supersónica, em que todas as personagens eram mágicas e lhe ensinaram as lições necessárias e agradeceu ao melhor amigo e ao pior inimigo com o mesmo amor. Viu não só esta vida, mas todas as outras antes e todas as outras depois.
Viu-as todas ao mesmo tempo como um ecrã gigante, com múltiplos ecrãs, e viu que tinhas tido muitos rostos, muitas nacionalidades, muitas doenças, muitas bençãos, muita alegria, muito sofrimento, tudo para lhe ensinar a mesma coisa: que a essência do Todo, da multiplicidade, é a mesma. Sentiu, tocou, ERA a Unidade.
Olhou para o passado com a visão do presente e reparou em todos os sinais que sempre lá estiveram, e ao trazer essa consciência para o presente, ganhou dons proféticos pois lembrou-se do que sempre soube e que agora estava a ser confirmado, para além de todas as dúvidas e de todos os medos.
Olhou para o futuro com os olhos do presente e não com os do passado, e percebeu que podia projectar o que quisesse.
Que os sonhos que sempre tinha tido eram profecias, visões do futuro a chamá-la, e do seu passado a inspirá-la e a fazê-la recordar, embora tivesse deixado de existir passado ou futuro, apenas o aqui e o agora, sempre.
Tinha braços infinitos e com eles tocava todos os instrumentos, abria todas as portas, dava a mão a toda a gente...
O mundo todo era um conjunto, um emaranhado de antenas, inter-ligadas, fluindo, transmitindo energia e informação pelo cosmos inteiro, e compreendeu a telepatia.
Sentiu-se em casa, mas sentiu saudades dos seus amigos. Sentiu que podia ficar ali para sempre, mas que tinha muito a fazer antes do regresso final.
Um anjo deu-lhe a mão e juntos desceram do céu como uma só folha a baloiçar ao vento.
Quando abriu os olhos, tudo estava diferente. Sentiu que tinha, finalmente, nascido.
Ao lembrar-se de onde veio, lembrou-se do que cá estava a fazer, e ao escolher o amor decidiu que nunca mais iria vibrar medo em nenhuma situação.
Nunca mais se iria sentir triste sem se sentir feliz por estar triste.
Nunca mais iria amaldiçoar nada. Nunca mais iria queixar-se de nada enquanto estivesse viva, pois lembrou-se porque quis voltar.
Sentia aquele amor no seu riso, nos seus olhos, no seu canto, na sua dança, em tudo o que existia de belo.
Era como se se tivesse religado. Foi uma experiência mística em que o seu coração recomeçou a bombear do centro do sol.
E ao sentir aquele preenchimento, aquela graça, beatitude, só tinha vontade de dar amor, ajudar, andar aos beijinhos e abraços a toda a gente.
O seu objectivo de vida tornou-se colocar um sorriso no rosto das pessoas. Despertar nelas essa essência vital e partilhar aquela sensação indescritível que era mais que apenas uma sensação, era o significado da própria vida.
Todas as distorções e interferências da mente desapareceram.
Deixou de falar, para apenas cantar todo o tempo. Era tal a inspiração que era impossível não cantar constantemente. O amor foi e é a rima, a partilha foi e é a poesia.
Era um sonho real. E uma realidade sonhada é o maior tesouro que existe.
E tinha sonhado com tudo isto antes de acontecer. Antes de a conhecer já a conhecia dos seus sonhos. E isto não é fantasia. Não são necessárias figuras de estilo, quais hipérboles, exagerar seria transformar tudo num grande pleonasmo. Nem é preciso surrealizar, é o que é, por mais inacreditável que seja…São os factos encantados - É pura magia.
A entrada naquele portal deixou para sempre dentro dela uma melodia que nunca parará de vibrar. O ritmo do seu coração será sempre o bater do coração de Gaya.
A menina continuará sempre a rodopiar e a cair no chão às gargalhadas.
A vida será sempre a beleza que inunda e embriaga e entontece e faz desfalecer...
Não foi imaginação. Não é preciso idealizar. É um sonho. E é difícil de acreditar porque é real, e é quase medonho...mas não mete medo.
É.
O sol brilhava naquele dia, as nuvens tinham todas formas de gelados, espirais, flores, árvores e estátuas de deuses brincalhões.
O ar era mais espesso que o costume, como se desse para pegar num tapete, lançá-lo ao ar, saltar-lhe para cima e desatar a esvoaçar. O barulho da água a bater nas rochas era percussão natural, pautando o ritmo dos passos daquela menina, que naquele dia estava, simplesmente, viva.
Deambulou, deambulou, deambulou, por caminhos desconhecidos, rodopiando, espiralando pelas árvores, trepando os troncos e procurando por baixo de todas as pedras algo que tinha perdido mas não sabia o que era. Algo que já conhecia e que iria reconhecer mas que não sabia como iria acontecer. Apenas sabia que iria sentir e não seria possível duvidar.
A dada altura, viu uma luz ao fundo, e era a luz reflectida na água de um lago cheio de cores vibrantes e harmonias de cores, uma sinfonia de vida em que o canto dos pássaros, o barulho do vento nas flores, o saltitar da água e a própria corrente compunham uma música nunca antes ouvida, apenas sentida em todas as suas células.
Naquele momento, perante tal visão de beleza e encantamento, êxtase natural, aquele orgasmo e frenesi de naturalidade efervescente e fosforescente, de energia incadescente, um portal abriu-se diante dos seus olhos.
Começou por ser apenas uma luzinha no ar à sua frente. Essa luz começou a desenhar um quadrado perfeito. Uma tela.
Uma voz soou, uma voz que continha em si o canto de todos os anjos, todas as harpas douradas, todas as harmonias estranhas e belas possíveis e impossíveis de imaginar. Essa voz disse: "Pinta aqui a tua alma."
A menina ergueu-se e levitou por cima da água, levada apenas pelo olhar, e chorou, pois foi a expressão mais sincera para aquele momento.
Cada lágrima dirigiu-se àquela tela e pintou-a como um pincel com a sua própria cor, cadência, expressão e intenção. As lágrimas percorriam a tela como as gotas de chuva num vidro. Ou como as gotas de chuva num solo que já possui forma e que se adequam às reentrâncias e morfologia existente...
À medida que o quadro se formava a menina sentiu-se desintegrar e desaparecer como corpo material.
A voz disse: "Entra."
Era agora ou nunca. Era sim ou não. Amor ou Medo?
Amor, amor, amor...
E como o vento, a menina entrou. Escorregou, mergulhou e elevou-se num túnel de espaço-tempo sem fim, para baixo, para cima, para todas as direcções ao mesmo tempo.
Era como estar debaixo das ondas, numa tempestade, no meio de um tornado, ou numa erupção vulcânica, simultaneamente.
Também era como estar num campo de flores, num mar de cores e cheiros, ou num parque infantil cheio de crianças e riso infinito...
Era como estar dentro do sol, como estar fundida com o magma no centro da terra, ou no coração de todos os seres humanos.
A menina viajou até ao início e ao fim de tudo, e percebeu que eram ambos o mesmo. Viu toda a sua vida como um filme em velocidade supersónica, em que todas as personagens eram mágicas e lhe ensinaram as lições necessárias e agradeceu ao melhor amigo e ao pior inimigo com o mesmo amor. Viu não só esta vida, mas todas as outras antes e todas as outras depois.
Viu-as todas ao mesmo tempo como um ecrã gigante, com múltiplos ecrãs, e viu que tinhas tido muitos rostos, muitas nacionalidades, muitas doenças, muitas bençãos, muita alegria, muito sofrimento, tudo para lhe ensinar a mesma coisa: que a essência do Todo, da multiplicidade, é a mesma. Sentiu, tocou, ERA a Unidade.
Olhou para o passado com a visão do presente e reparou em todos os sinais que sempre lá estiveram, e ao trazer essa consciência para o presente, ganhou dons proféticos pois lembrou-se do que sempre soube e que agora estava a ser confirmado, para além de todas as dúvidas e de todos os medos.
Olhou para o futuro com os olhos do presente e não com os do passado, e percebeu que podia projectar o que quisesse.
Que os sonhos que sempre tinha tido eram profecias, visões do futuro a chamá-la, e do seu passado a inspirá-la e a fazê-la recordar, embora tivesse deixado de existir passado ou futuro, apenas o aqui e o agora, sempre.
Tinha braços infinitos e com eles tocava todos os instrumentos, abria todas as portas, dava a mão a toda a gente...
O mundo todo era um conjunto, um emaranhado de antenas, inter-ligadas, fluindo, transmitindo energia e informação pelo cosmos inteiro, e compreendeu a telepatia.
Sentiu-se em casa, mas sentiu saudades dos seus amigos. Sentiu que podia ficar ali para sempre, mas que tinha muito a fazer antes do regresso final.
Um anjo deu-lhe a mão e juntos desceram do céu como uma só folha a baloiçar ao vento.
Quando abriu os olhos, tudo estava diferente. Sentiu que tinha, finalmente, nascido.
Ao lembrar-se de onde veio, lembrou-se do que cá estava a fazer, e ao escolher o amor decidiu que nunca mais iria vibrar medo em nenhuma situação.
Nunca mais se iria sentir triste sem se sentir feliz por estar triste.
Nunca mais iria amaldiçoar nada. Nunca mais iria queixar-se de nada enquanto estivesse viva, pois lembrou-se porque quis voltar.
Sentia aquele amor no seu riso, nos seus olhos, no seu canto, na sua dança, em tudo o que existia de belo.
Era como se se tivesse religado. Foi uma experiência mística em que o seu coração recomeçou a bombear do centro do sol.
E ao sentir aquele preenchimento, aquela graça, beatitude, só tinha vontade de dar amor, ajudar, andar aos beijinhos e abraços a toda a gente.
O seu objectivo de vida tornou-se colocar um sorriso no rosto das pessoas. Despertar nelas essa essência vital e partilhar aquela sensação indescritível que era mais que apenas uma sensação, era o significado da própria vida.
Todas as distorções e interferências da mente desapareceram.
Deixou de falar, para apenas cantar todo o tempo. Era tal a inspiração que era impossível não cantar constantemente. O amor foi e é a rima, a partilha foi e é a poesia.
Era um sonho real. E uma realidade sonhada é o maior tesouro que existe.
E tinha sonhado com tudo isto antes de acontecer. Antes de a conhecer já a conhecia dos seus sonhos. E isto não é fantasia. Não são necessárias figuras de estilo, quais hipérboles, exagerar seria transformar tudo num grande pleonasmo. Nem é preciso surrealizar, é o que é, por mais inacreditável que seja…São os factos encantados - É pura magia.
A entrada naquele portal deixou para sempre dentro dela uma melodia que nunca parará de vibrar. O ritmo do seu coração será sempre o bater do coração de Gaya.
A menina continuará sempre a rodopiar e a cair no chão às gargalhadas.
A vida será sempre a beleza que inunda e embriaga e entontece e faz desfalecer...
Não foi imaginação. Não é preciso idealizar. É um sonho. E é difícil de acreditar porque é real, e é quase medonho...mas não mete medo.
É.
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